Hino Homérico XIX: a Pã
Translation from Ancient Greek to Portuguese
Hino Homérico XIX: a Pã
Canta-me, ó Musa, sobre o caro filho de Hermes,
De pés caprinos, duplo corno e amante do som,
O qual pelos prados frondosos passeia na companhia
De Ninfas dançantes, que pisam os cumes dos montes
Íngremes chamando por Pã, deus pastor de pelo claro e
Deslavado, que obteve dos deuses toda a crista nevada,
Os cumes das montanhas e os picos rochosos.
Vagueia aqui e ali pelos arbustos cerrados,
Ora trilhando pelas correntes suaves,
Ora deambula também nas rochas escarpadas,
subindo à mais alta colina que observa os rebanhos.
Muitas vezes corre através da grande e nívea montanha.
Muitas vezes, arrojando-se pelas colinas,
Olhando astutamente, chacina feras.
Umas vezes, voltando da caça à noite, solitariamente silva,
Tocando uma doce música, coberto por um molho de canas;
E o pássaro, aquele que entre as folhas da primavera florescente,
Derramando um lamento, chilreia um canto melodioso,
Não é capaz de o superar no canto; outras vezes,
As Ninfas serranas de belo canto passeiam com ele,
E pelos pés leves celebram dançando e cantando,
Junto à fonte de negras águas; enquanto Eco
Pranteia às voltas no topo da montanha; o deus
Ora está deste lado do coro, ora do outro, e outras vezes
Indo para o meio, conduz as danças com os pés leves,
Com trapos de lince rúbeo nas costas, e deleita o coração
Com os cantos e danças serenos no prado suave, onde
O açafrão e o jacinto cheiroso, ao florescer, tornam-se
Indistinguíveis entre as ervas. louvam os deuses felizes e
O distante Olimpo; e cantam aquele só, superior aos outros,
Hermes Eriúnio[1] e eminente, e como ele é o veloz
Mensageiro de todos os deuses, e como veio
Até à Arcádia de muitas nascentes, mãe dos rebanhos,
Onde tem em seu nome o santuário de Cilene.
Aqui, embora sendo deus, pastoreou rebanhos de pelo hirsuto
Na casa de um homem mortal, pois um desejo enfraquecedor
E assaltante de se unir em paixão com a virgem de Dríope floresceu;
E aqui consumou o matrimónio primaveril, que gerou
A Hermes o seu filho no _mégaron[2] , e logo fora maravilhoso
De se ver, de pés caprinos, duplo corno, de riso doce e
Amante do som; A ama, ao ver este aspeto terrível e já barbado,
Levantando-se de imediato, fugiu e abandonou a criança,
Pois temia (-o). De súbito, Hermes Eriúnio, aparecendo,
Colheu com a mão a criança, e o deus rejubilou-se
Imensamente no espírito. Velozmente foi até à moradia
Dos imortais, cobrindo a criança com densas peles de lebre
serrana. Sentou-se junto de Zeus e dos outros imortais e mostrou
o seu rapaz; todos os imortais se alegraram no espírito, o
Báquico Dioniso mais que todos; Chamaram-no “Pã"[3]
Visto que alegrou o coração a todos.
E tu alegra-te também, ó soberano [4], apaziguo-te
Com este canto, mas ainda me lembro de ti.
E de outro canto também.
[1] Que traz boa sorte.
[2] Sala central nos palácio micénicos que rodeia uma grande lareira.
[3] A Palavra grega "pan" significa todos.
[4] Primeiro entre iguais. No contexto homérico refere-se a Agamémnon.
Greek Text
ἀμφί μοι Ἑρμείαο φίλον γόνον ἔννεπε, Μοῦσα,
αἰγιπόδην, δικέρωτα, φιλόκροτον, ὅστ᾽ ἀνὰ πίση
δενδρήεντ᾽ ἄμυδις φοιτᾷ χορογηθέσι νύμφαις,
αἵ τε κατ᾽ αἰγίλιπος πέτρης στείβουσι κάρηνα
5Πᾶν᾽ ἀνακεκλόμεναι, νόμιον θεόν, ἀγλαέθειρον,
αὐχμήενθ᾽, ὃς πάντα λόφον νιφόεντα λέλογχε
καὶ κορυφὰς ὀρέων καὶ πετρήεντα κάρηνα.
φοιτᾷ δ᾽ ἔνθα καὶ ἔνθα διὰ ῥωπήια πυκνά,
ἄλλοτε μὲν ῥείθροισιν ἐφελκόμενος μαλακοῖσιν,
10ἄλλοτε δ᾽ αὖ πέτρῃσιν ἐν ἠλιβάτοισι διοιχνεῖ,
ἀκροτάτην κορυφὴν μηλοσκόπον εἰσαναβαίνων.
πολλάκι δ᾽ ἀργινόεντα διέδραμεν οὔρεα μακρά,
πολλάκι δ᾽ ἐν κνημοῖσι διήλασε θῆρας ἐναίρων,
ὀξέα δερκόμενος: τότε δ᾽ ἕσπερος ἔκλαγεν οἶον
15ἄγρης ἐξανιών, δονάκων ὕπο μοῦσαν ἀθύρων
νήδυμον: οὐκ ἂν τόν γε παραδράμοι ἐν μελέεσσιν
ὄρνις, ἥτ᾽ ἔαρος πολυανθέος ἐν πετάλοισι
θρῆνον ἐπιπροχέουσ᾽ ἀχέει μελίγηρυν ἀοιδήν.
σὺν δέ σφιν τότε Νύμφαι ὀρεστιάδες λιγύμολποι
20φοιτῶσαι πύκα ποσσὶν ἐπὶ κρήνῃ μελανύδρῳ
μέλπονται: κορυφὴν δὲ περιστένει οὔρεος Ἠχώ:
δαίμων δ᾽ ἔνθα καὶ ἔνθα χορῶν, τοτὲ δ᾽ ἐς μέσον ἕρπων,
πυκνὰ ποσὶν διέπει, λαῖφος δ᾽ ἐπὶ νῶτα δαφοινὸν
λυγκὸς ἔχει, λιγυρῇσιν ἀγαλλόμενος φρένα μολπαῖς
25ἐν μαλακῷ λειμῶνι, τόθι κρόκος ἠδ᾽ ὑάκινθος
εὐώδης θαλέθων καταμίσγεται ἄκριτα ποίῃ.
ὑμνεῦσιν δὲ θεοὺς μάκαρας καὶ μακρὸν Ὄλυμπον:
οἷόν θ᾽ Ἑρμείην ἐριούνιον ἔξοχον ἄλλων
ἔννεπον, ὡς ὅ γ᾽ ἅπασι θεοῖς θοὸς ἄγγελός ἐστι,
30καί ῥ᾽ ὅ γ᾽ ἐς Ἀρκαδίην πολυπίδακα, μητέρα μήλων,
ἐξίκετ᾽, ἔνθα τέ οἱ τέμενος Κυλληνίου ἐστίν.
ἔνθ᾽ ὅ γε καὶ θεὸς ὢν ψαφαρότριχα μῆλ᾽ ἐνόμευεν
ἀνδρὶ πάρα θνητῷ θάλε γὰρ πόθος ὑγρὸς ἐπελθὼν
νύμφῃ ἐυπλοκάμῳ Δρύοπος φιλότητι μιγῆναι:
35ἐκ δ᾽ ἐτέλεσσε γάμον θαλερόν. τέκε δ᾽ ἐν μεγάροισιν
Ἑρμείῃ φίλον υἱόν, ἄφαρ τερατωπὸν ἰδέσθαι,
αἰγιπόδην, δικέρωτα, φιλόκροτον, ἡδυγέλωτα:
φεῦγε δ᾽ ἀναΐξασα, λίπεν δ᾽ ἄρα παῖδα τιθήνη
δεῖσε γάρ, ὡς ἴδεν ὄψιν ἀμείλιχον, ἠυγένειον.
40τὸν δ᾽ αἶψ᾽ Ἑρμείας ἐριούνιος εἰς χέρα θῆκε
δεξάμενος, χαῖρεν δὲ νόῳ περιώσια δαίμων.
ῥίμφα δ᾽ ἐς ἀθανάτων ἕδρας κίε παῖδα καλύψας
δέρμασιν ἐν πυκινοῖσιν ὀρεσκῴοιο λαγωοῦ
πὰρ δὲ Ζηνὶ κάθιζε καὶ ἄλλοις ἀθανάτοισι,
45δεῖξε δὲ κοῦρον ἑόν: πάντες δ᾽ ἄρα θυμὸν ἔτερφθεν
ἀθάνατοι, περίαλλα δ᾽ ὁ Βάκχειος Διόνυσος:
Πᾶνα δέ μιν καλέεσκον, ὅτι φρένα πᾶσιν ἔτερψε.
καὶ σὺ μὲν οὕτω χαῖρε, ἄναξ, ἵλαμαι δέ σ᾽ ἀοιδῇ
αὐτὰρ ἐγὼ καὶ σεῖο καὶ ἄλλης μνήσομ᾽ ἀοιδῆς.\